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Objetivo de completar o álbum de figurinhas da Copa é oportunidade para falar de dinheiro com crianças, diz especialista.
A cada quatro anos, crianças (e adultos) de todo o Brasil correm para as bancas com uma árdua missão: completar o álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Pacotinho após pacotinho, as páginas vão se preenchendo de imagens de jogadores, estádios e seleções, conquistadas com esforço, negociação e uma pitadinha de sorte. Toda essa experiência já tem mais de 60 anos e vem marcando gerações de aficionados por futebol, mas também pode ser uma boa oportunidade para ensinar lições de economia pessoal para as crianças.
Em 2022, completar o álbum da Copa custa, para os brasileiros, pelo menos R$ 548. Esse cálculo leva em consideração o valor da edição mais simples do álbum e os 134 pacotes de figurinhas necessários para conseguir as 670 imagens que estão nele. Cada pacotinho custa R$ 4 e, por isso, um colecionador sem sorte que não queira trocar figurinhas pode gastar até mais de R$ 9 mil, segundo estimativas. Para o coordenador pedagógico da Conquista Solução Educacional, Fernando Vargas, “produtos como o álbum da Copa têm a ver com a relação entre desejo e necessidade. Por isso, essa pode ser uma forma interessante de contribuir para a construção de autonomia das crianças”. Ele explica que ensinar os pequenos a negociar, trocar e até vender as figurinhas repetidas trabalha habilidades como paciência, resiliência e frustração.
Não vale confiar só na sorte
Completar o álbum sem precisar trocar figurinhas depende de muita sorte ou muito dinheiro. Enquanto as chances de ganhar na loteria são de uma em 50 milhões, as chances de encontrar 148 figurinhas que não sejam repetidas é de uma em mais de 55 milhões. A capacidade de negociar, portanto, é fundamental para quem não pretende gastar muito. Este ano, aliás, essa brincadeira ficou mais cara. Em 2018, um pacote com cinco figurinhas custava R$ 2, metade do valor de 2022.
Além de aprender a lidar com o impulso de compra, todo o processo de encontrar as figurinhas que faltam ensina a ter organização, responsabilidade e até generosidade. “Não se trata apenas de terminar de colar as imagens nas páginas, mas também de uma vivência social. Por meio das trocas e da negociação, as crianças desenvolvem importantes competências socioemocionais”, detalha Vargas. Todas essas coisas, afirma, estão intimamente relacionadas a uma vida financeira saudável. Crianças que são capazes de lidar com suas frustrações e negociar com os colegas serão adultos com menor propensão a fazer compras por impulso, por exemplo.
Ética e honestidade
Outro benefício do álbum é a possibilidade de ensinar lições valiosas sobre conceitos como honestidade e ética. Isso porque, para a perspectiva infantil, pode ser tentador levar vantagem nas negociações. “Na hora de negociar, os pais podem incentivar que os filhos sejam honestos para com seus interlocutores, mas a via contrária também é verdadeira. Ou seja, as crianças podem também aprender a lidar com quem tenta levar vantagem sobre elas, pessoas que existem não apenas na infância, mas são uma realidade ao longo de toda a vida”, ressalta.
Por meio da observação, os pais conseguem ensinar as crianças a contornar esse tipo de situação e se defender delas, o que também exercita a resiliência. Prestar atenção a comportamentos suspeitos e não aceitar qualquer proposta, mesmo aquelas que parecem mais tentadoras, são efeitos colaterais desse exercício.
Diálogo e exemplo são a chave do sucesso
Assim como acontece com os pequenos na hora de conseguir as imagens que faltam, a conversa é uma das melhores maneiras de transmitir a eles as principais lições de educação financeira sobre o álbum. “O diálogo é sempre muito importante, mas precisa vir acompanhado pelo exemplo. Não adianta apenas explicar que essa brincadeira custa caro, é preciso estabelecer os objetivos e envolver a criança no planejamento, desenvolvendo junto dela estratégias para conquistar o livrinho completo no final do processo”, finaliza.
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