Tempo estimado de leitura: 5
Os distúrbios de aprendizagem afetam as habilidades formativas, cognitivas e socioemocionais de diversas pessoas em todo o mundo. Cerca de 5 a 15% das crianças em idade escolar apresentam dificuldades educacionais, segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2015).
No Brasil, há quase 300 mil alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados nos ensinos infantil, fundamental e médio, de acordo com o Censo Escolar de 2021. Esse dado representa apenas um dos casos, entre vários, de uma condição específica que pode fazer com que a aprendizagem se torne um obstáculo.
Para tornar o ambiente educacional mais inclusivo e acolhedor, é importante que pais e responsáveis, professores e educadores em geral compreendam mais sobre os distúrbios de aprendizagem existentes. Além disso, é imprescindível conhecer estratégias que podem ser utilizadas para trabalhar, em sala de aula, com as crianças que possuem essas dificuldades.
1 – Dislexia e discalculia
A dislexia é um entre os vários distúrbios de aprendizagem que é genético e dificulta o aprendizado e a realização da leitura e da escrita. Pode ser relacionada com a disortografia (comprometimento somente na escrita) e a discalculia (comprometimento na matemática).
Entre os sintomas da dislexia na infância, podemos destacar: dispersão, falta de atenção, dificuldade em aprender rimas e canções, atraso na coordenação motora e falta de interesse por livros.
Já a discalculia é caracterizada pela dificuldade no aprendizado dos números. As crianças apresentam uma inabilidade para lidar com contagens, sequências e operações aritméticas. Mas é importante ressaltar que isso não tem a ver com inteligência, e sim com uma deficiência na compreensão matemática.
Geralmente, a criança apresenta dificuldade em visualizar conjuntos de objetos dentro de um conjunto maior, em conservar a quantidade (não compreendem que 1 quilo é igual a quatro pacotes de 250 gramas) e sequenciar números (o que vem antes de 11 e depois dos 15, por exemplo).
Dicas de como trabalhar em sala de aula
- Atividades com música: estimula ritmo, concentração e atenção
- Atividades com rimas: desenvolve habilidade com som e produção do som
- Atividade com ritmo e palmas
- Atividade com consciência fonológica: BA-TA-TA 3 sílabas / PER-NI-LON-GO 4 sílabas
- Atividades de Percepção visual: 7 erros, “Onde está Wally?”, Lince
- Trabalhar lateralidade: esquerda/direita
- Uso de calculadora e tabuada
- Avaliações devem ser realizadas oralmente e textos devem ser lidos por um adulto
2 – TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade
O TDAH é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida.
Normalmente, os sintomas são: não prestar atenção em detalhes ou cometer erros por descuido, ter dificuldade de manter a atenção em tarefas, conversas e leituras, parecer não escutar quando lhe dirigem a palavra, não seguir instruções até o fim ou terminar trabalhos, ter dificuldade para organizar compromissos e cumprir prazos, relutar em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, perder itens necessários, ser facilmente distraído por estímulos externos ou pensamentos e ser avoado para atividades cotidianas como pagar contas e retornar ligações.
Dicas de como trabalhar em sala de aula
- Estabeleça rotinas
- Crie as regras da sala de aula: regras claras e objetivas
- Sente-se na frente na sala de aula: será mais fácil monitorar e ajudar o estudante com dificuldade nos estudos
- Faça pausas regulares
- Ensine técnicas de organização e estudo
- “Tempo extra” para responder às perguntas
- Questione sobre dúvidas em sala de aula
- Estimule e elogie
3 – TEA: Transtorno do Espectro Autista
O TEA é o resultado de alterações físicas e funcionais do cérebro e está relacionado ao desenvolvimento motor, da linguagem e comportamental. Esse distúrbio afeta o comportamento da criança e os primeiros sinais podem ser notados em bebês nos primeiros meses de vida.
Cada criança desenvolve sintomas específicos, mas os mais comuns são: o atraso no desenvolvimento da fala ou falta dela, dificuldade em manter contato visual ou em entender emoções e expressões faciais, pouca interação com outras crianças, baixa adaptação a mudanças na rotina ou atividades não familiares, repetições frequentes de comportamentos, palavras ou frases específicas, preferência por atividades isoladas ou interesse estrito e intenso em um único assunto ou objeto, sensibilidade extrema a sons, luzes, texturas e cheiros, resistência a toques e aversão a certos alimentos com texturas e sabores específicos.
Dicas de como trabalhar em sala de aula
- Obter um diagnóstico precoce: é fundamental para iniciar as intervenções e apoios necessários para a criança
- Estabelecer uma rotina: crianças autistas geralmente se beneficiam de rotinas estruturadas e previsíveis, que podem ajudá-las a se sentir seguras e reduzir a ansiedade
- Oferecer apoio na comunicação: algumas crianças autistas podem ter dificuldade em se comunicar verbalmente, portanto, pode ser útil oferecer suporte na comunicação, como ensinar habilidades de comunicação alternativas, como a comunicação por meio de sinais ou imagens.
- Oferecer suporte para habilidades sociais: as crianças autistas podem ter dificuldade em entender as pistas sociais e emoções dos outros, portanto, pode ser útil oferecer suporte para desenvolver habilidades sociais, como a capacidade de iniciar e manter conversas.
Em conclusão, cada criança autista é única e tem suas próprias necessidades e desafios, portanto, é importante abordar cada situação individualmente e com sensibilidade.
4 – TOD: Transtorno Opositivo Desafiador
O Transtorno Opositivo Desafiador geralmente acontece durante a fase da infância. A criança que tem o transtorno apresenta comportamentos caracterizados por agressividade, raiva, desobediência, provocação e ressentimento.
Comumente os sintomas são a desobediência, irritabilidade, agitação, culpabilização dos outros, raiva constante, ser vingativo e cruel e agressividade.
Dicas de como trabalhar em sala de aula
- Tenha clareza com as regras
- Faça elogios
- Conheça os gostos das crianças
- Não se esqueça de ser exemplo
5 – DI: Deficiência Intelectual
Na deficiência intelectual, a pessoa apresenta um atraso no seu desenvolvimento, dificuldades para aprender e realizar tarefas do dia a dia e interagir com o meio em que vive. Ou seja, existe um comprometimento cognitivo, que acontece antes dos 18 anos, e que prejudica suas habilidades adaptativas.
Os sintomas incluem atraso no desenvolvimento, falta de interesse, isolamento familiar, problemas de aprendizado, queixas somáticas (se a criança começar a se queixar muito de dores de estômago, ouvido e garganta, por exemplo, vale consultar um médico, porque a causa pode ser emocional), medo excessivo, irritabilidade, alteração de apetite, regressão de habilidades adquiridas e fadiga.
Dicas de como trabalhar em sala de aula
- Converse (e muito) com a criança. Fale sobre o que vocês estão fazendo, nomeie os objetos, partes do corpo e ações
- Estimule que a criança expresse seus desejos e necessidades
- Aumente sempre o vocabulário da criança utilizando fotos, figuras e imagens
- Brinque! Estimule o “faz de conta” ou jogo simbólico
- Com os pequenos, cante músicas infantis e que utilizam a imitação
- O vínculo afetivo é importante sempre em todas as situações
- Usar diferentes estratégias e materiais para um mesmo objetivo, estimulando assim a memória e a generalização
- Priorizar a qualidade e não quantidade de atividades
- Solicitar uma ou poucas ordens de cada vez
- Explicar de modo claro e verificar se o aluno compreendeu a ordem
- Uso jogos e atividades divertidas, brincar é importante para todas idades
- Partir de elementos concretos para o pensamento abstrato
- Ir do simples para o complexo
- Segmente as atividades
Diagnóstico e tratamento
É importante ressaltar que cada criança é um ser único e individual, podendo apresentar comportamentos destoantes que não necessariamente estejam relacionados a um ou mais distúrbios de aprendizagem.
Ademais, o diagnóstico e tratamento de qualquer distúrbio da aprendizagem devem ser feitos por profissionais qualificados, ou seja, com o acompanhamento de médicos e psicólogos. Para auxiliar no diagnóstico, avaliações educacionais e recursos da neuropedagogia podem ser aplicados, que é onde os educadores e profissionais da pedagogia podem entrar.
Autoria: Samea Cristina Macrini – Consultora Pedagógica na Conquista Solução Educacional e especialista em distúrbios de aprendizagem, educação inclusiva e neuropsicologia pela PUCSP.