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Tem uma figura que circula pela escola com aquele misto de empolgação e insegurança, observando tudo com olhos atentos, fazendo perguntas que às vezes parecem óbvias mas que nos fazem repensar práticas automáticas. É o estagiário. E se você acha que ele está ali apenas para tirar cópias ou organizar materiais, está desperdiçando uma oportunidade valiosa, tanto para sua escola quanto para a formação desse futuro profissional.
A verdade é que muitos gestores não sabem exatamente o que fazer com estagiários. Eles chegam cheios de teoria da faculdade, com pouca experiência prática, e a gente fica naquela dúvida: quanto posso delegar? Quanto preciso supervisionar? Onde esse profissional em formação se encaixa na rotina escolar?
Vamos começar pelo básico: um estagiário não é mão de obra barata para tarefas operacionais que ninguém quer fazer. Também não é um professor substituto que você pode jogar sozinho numa sala de aula. O estágio existe para que estudantes de pedagogia ou licenciaturas vivenciem a realidade escolar de forma orientada, aprendendo com profissionais experientes enquanto contribuem com um olhar fresco sobre velhas questões.
Definindo expectativas desde o início
Sabe aquele ditado “quem não sabe onde quer chegar, qualquer caminho serve”? Pois é exatamente isso que acontece quando você recebe um estagiário sem um plano claro. Ele fica perdido, você fica frustrado, e no final ninguém aproveitou a experiência como deveria.
Desde o primeiro dia, sente com essa pessoa e explique como funciona a escola. Apresente a proposta pedagógica, mostre a estrutura, fale sobre a equipe. Mais importante ainda: deixe claro quais são as responsabilidades dele e o que você espera desse período de estágio.
Um estagiário pode auxiliar professores no planejamento de aulas, ajudar na preparação de materiais didáticos, acompanhar atividades em sala observando a dinâmica entre docente e alunos. Pode participar de reuniões pedagógicas, contribuir com projetos especiais, apoiar alunos com dificuldades específicas. Existem inúmeras possibilidades, mas todas precisam ter um propósito formativo.
Estabeleça uma rotina de supervisão. Talvez uma conversa semanal de meia hora para discutir o que ele observou, tirar dúvidas, dar feedbacks. Esse acompanhamento faz toda a diferença na qualidade da aprendizagem.
Transformando teoria em prática
Lembra quando você estava começando na educação e tudo parecia ao mesmo tempo fascinante e assustador? O estagiário está exatamente nesse momento. Ele estudou Piaget, Vygotsky, Paulo Freire, decorou teorias de desenvolvimento infantil e metodologias de ensino. Agora precisa entender como tudo isso se aplica quando você tem trinta crianças reais na sua frente, cada uma com suas particularidades.
Incentive seu estagiário a fazer essas conexões. Depois que ele observar uma aula, provoque reflexões: “Você percebeu como a professora adaptou a atividade para incluir aquele aluno com dificuldade motora? Que teorias de educação inclusiva sustentam essa prática?”. Essas pontes entre teoria e prática são essenciais para formar educadores conscientes e reflexivos.
Permita que ele experimente, obviamente com supervisão. Preparar uma contação de histórias, conduzir uma atividade lúdica, aplicar uma dinâmica de grupo. Erros vão acontecer, e tudo bem. Aliás, melhor que erre agora, com alguém experiente ao lado para orientar, do que mais tarde quando estiver sozinho em sala.
O que você ganha com isso
Talvez você esteja pensando: “Mas isso dá trabalho! Preciso parar para explicar, supervisionar, corrigir…”. É verdade, demanda tempo e energia. Porém, os benefícios compensam largamente esse investimento.
Primeiro, estagiários trazem novidades. Eles acabaram de sair da faculdade, conhecem metodologias atuais, têm familiaridade natural com tecnologias educacionais, questionam práticas estabelecidas. Esse olhar externo pode oxigenar sua equipe e sugerir melhorias que vocês nem consideravam.
Segundo, formar bons profissionais é plantar sementes para o futuro da educação. Aquele estagiário que você orientou com cuidado pode se tornar um excelente professor, talvez até voltar para trabalhar na sua escola. Você está literalmente moldando a próxima geração de educadores.
Terceiro, ensinar alguém nos obriga a revisar nossos próprios conhecimentos. Quando você precisa explicar por que faz determinada escolha pedagógica, acaba refletindo mais profundamente sobre suas práticas. Isso fortalece a cultura de reflexão e aprimoramento contínuo na escola.
Cultivando futuros colegas
Trate seu estagiário como um membro da equipe, não como um visitante temporário. Convide-o para participar de momentos coletivos, ouça suas impressões, valorize suas contribuições. Mostre que educação é um campo desafiador, sim, mas também recompensador e cheio de significado.
Quando você entende qual o papel do estagiário na escola e o acolhe adequadamente, todo mundo cresce. Ele desenvolve competências profissionais essenciais, seus professores se sentem valorizados ao compartilhar conhecimento, e sua instituição se fortalece como espaço formador comprometido com a excelência educacional.
